Renata acordou, espreguiçou-se e finalmente levantou. Um pouco de dor de cabeça, um pouco da cólica que dava o ar de sua graça todos os meses, uma imensa vontade de ficar em casa, dormir sem hora para acordar. Renata vestiu a roupa que sobrara no guarda-roupa, tomou o café da manhã correndo visualizando a lista de coisas que tinha para fazer (a metade da folha sulfite que ela havia separado para suas tarefas estava totalmente preenchida) e ficou um tanto desanimada. Escovou os dentes, lavou o rosto, passou o protetor solar, penteou os cabelos, calçou os sapatos que ganhara de natal no ano anterior, colocou ração e água nos potes de seu gato, Itálico. Finalmente saiu. Com mais cólica e dor de cabeça e a vontade de estar deitada aumentando, avistou a vizinha que havia lhe pego no colo quando era bebê. O que se seguiria ela sabia bem, a pergunta habitual que receberia a resposta habitual (para dar essa resposta não precisava pensar, era só responder o que sempre se responde), a mentirinha social:
- Bom dia, menina! Tudo bem, Renatinha?
- Oh, sim... Tudo bem! E a senhora?
- Bom... Bem, bem não estou... Estou levando, sabe? Acho que ninguém está bem mesmo. Acordei com uma dor no braço, menina! E essa noite quase não dormi. Meu filho disse que ia me levar no mercado essa semana, mas quebrou o pé. Agora você vê, olha minhas pernas, estão inchadas, doendo... Como vou ficar em pé na fila do mercado assim? Sem contar que é muito ruim quebrar o pé, é sim! Mas você está no mesmo trabalho?
- Ah... Que coisa, dona Gigi! Melhoras pro seu filho, e pra senhora também! Estou, estou no mesmo trabalho, até me atrasei! Ah, a gente pode ir no mercado amanhã à noite se a senhora quiser, agora já vou indo! Estou atrasada...
- Ah, Renatinha, que bom, eu estava aqui pensando no que ia fazer. Olha, já acabou tudo aqui de casa!
- É bem complicado... Tchau, dona Gigi! Tenha um bom dia!
Aparente a mentirinha social vai perdendo a força com o tempo e em algumas situações. Mas e você, como vai?
Isabela C. Santos
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