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Em um dia bom, em um dia ruim

Poucas pessoas sabem a importância de uma batata recheada, por isso vou lhe contar uma história, está bem? 

Não, não era um belo dia. Não, Beatriz não conseguiu lugar no ônibus para ir lendo um dos seus livros prediletos no caminho para a faculdade. Não, seu cabelo não quis cooperar e, bem, estava chovendo. Preciso dizer que Beatriz não tinha um guarda-chuva? Sim, sua avó sempre lhe dizia para levar o guarda-chuva para a faculdade, mas a questão era: que guarda-chuva? Durante três anos seguidos Beatriz ganhou um guarda-chuva de sua avó no natal, o que parece que não fazia muita diferença agora. Onde estávamos?

...

Bem, lembrei! Beatriz chegou na faculdade, lembrou-se do trabalho que seria entregue pelo professor naquele dia. Gelou. Não que isso fosse a coisa mais importante de sua vida, mas ainda assim, era importante (ainda mais a partir do momento que Beatriz disse que iria estudar mais; doce sonho). Não, a nota não foi boa. Não, os comentários escritos no seu trabalho não foram animadores. Definitivamente aquele não era um de seus melhores dias. Beatriz tentou prestar atenção no documentário exibido na sala de aula e, bem... Nossa personagem não poderia cair sozinha em um país que fale inglês, entende? Quando seus colegas decidiram assistir o filme com legendas em inglês (já que não havia legenda em português), pensou mais uma vez que não era um de seus melhores dias.

Acabou que Beatriz saiu bem antes do horário da aula terminar: todos saíram (mas aí já seria outra história, esqueceríamos da batata recheada). Mas acontece, meu bem, que Beatriz tinha uma amiga que a acompanhava na metade do caminho para a volta pra casa. Em um bom dia Beatriz e sua amiga haviam caminhado até o shopping para comer uma batata recheada, sabe, para deixar o dia ainda melhor. Mas agora, neste dia ruim, seria um pouco diferente.

Calma, está bem? Beatriz não foi ao shopping com sua amiga gastar o dinheiro que não tinha (até porque era um pouco pão dura; não pude deixar de observar, Beatriz). É estranho tentar lhe explicar como algumas coisas podem nos fazer tão bem... Sabe, namorar livros na livraria e aumentar sua lista de “livros que terei um dia na estante que ainda irei comprar quando tiver minha casa e fizer o meu cantinho de livros”, é algo que pode lhe fazer muito bem. Pelo menos fez bem para Beatriz e sua amiga, assim como a batata recheada, escolhida de acordo com os trocados que havia na carteira e com o que pediam seus estômagos.


A batata recheada, meu bem, não faria nenhum sentido se fosse apenas uma batata recheada: mas era uma batata recheada em um dia ruim, com uma boa companhia e boas risadas (Beatriz teve umas ideias malucas para resolver sua fase ruim). O que posso dizer? É bom ter com quem dividir uma batata recheada e... bom, não é com qualquer um que se divide uma batata.

Isabela C. Santos

Comentários

Anônimo disse…
Na minha opinião este não foi a melhor história que li aqui embora tbm tenha sido uma ótima história. Mas analisando a sua forma de escrita, como consegue colocar em palavras escritas algo corriqueiro e com certeza vivenciado por um destes últimos dias de chuva, Essa foi até então a melhor escrita, o melhor texto que pude ler com esta análise. Ficarei feliz se um dia puder tbm poder ler um livro escrito por vc. que a senhorita tenha sucesso e seja abençoada por Deus.
Patrícia Melo disse…
Eu gosto quando coisas simples são tão especiais e se tornam textos :)

Sobre isso... Não é O QUE FAZEMOS, é COM QUEM e QUANDO. Gosto disso :)
Marina Menezes disse…
“livros que terei um dia na estante que ainda irei comprar quando tiver minha casa e fizer o meu cantinho de livros” fazer essa lista é terapia ^^

Eu gostei da forma como você narrou, ficou parecendo alguém falando, sabe? Gostei disso. E é claro, dividir batatas pode ser um otimo jeito de diminuir a tensão do dia, desde que seja com a pessoa certa ;)
Testerrrr disse…
"não pude deixar de observar, Beatriz"

Eu gosto muito do jeito que escreve, mas gosto mais ainda da maneira que ve o mundo. E você vê muita coisa no mundo.

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