Não vou dizer que minha infância foi melhor do que a das crianças de hoje em dia. Não vou dizer que o bichinho virtual e o videogame me impediram de brincar de boneca, tomar banho de chuva, de mangueira, brincar de bexiga d'água (e depois ficar com peso na consciência porque em algum lugar do mundo alguém iria querer aquela água que eu estava jogando fora).
Não vou dizer que a televisão me impediu de brincar com caixas de leite enfileiradas que recebiam nomes e se tornavam meus alunos (coitados, levavam tantas broncas da professora impaciente!). Também não direi que deixei de andar de bicicleta (e levar uns bons tombos até aprender), ir no parque, de brincar com areia, brincar no escorregador, na balança, no gira-gira e colocar feijão no algodão porque tinha uma boneca que ria quando eu passava a mão.
A infância, de uns bons tempos pra cá, tem mesmo a cara de ser boa. A pretensão de ser a melhor parte da vida. As crianças de hoje olharão para sua infância daqui alguns anos e dirão: "nossa, como foi boa a minha infância, se as crianças de hoje em dia soubessem o que é ser criança, iriam querer ter uma infância igual a que eu tive". A única coisa que me preocupa quanto a boa infância é o tempo. O tempo para que essas crianças deem asas às suas imaginações, brinquem porque querem brincar, sejam crianças. Que permitam às nossas crianças o tempo para que as suas infâncias sejam as melhores. Que esse peso do mundo adulto, que essa quase obrigação de se preparar para o futuro, não caia sobre nossas crianças.
Isabela C. Santos
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