Deixei em branco o último mês do ano, deixei em branco as páginas do diário dedicadas a falar sobre as coisas que tanto me incomodam. Simplesmente deixei em branco. Deixei em branco os espaços de agradecimento e das palavras de carinho. Calei-me. No silêncio me escondi esperando tudo mudar, torcendo para tudo passar, desejando logo o fim. E no fim dessa escalada terá mesmo uma ponte? Depois de tanto andar, deixando a vida em branco para não pensar - buscando ganhar a vida, que ironia -, terá mesmo uma continuidade para enfim preencher as páginas ignoradas?
Subo uma montanha todos os dias e espero que em seu topo tenha uma ponte, para outra fase da vida, mas de que adiantará uma outra montanha, uma outra fase, se mais uma vez eu deixar tudo passar em branco? O que acontecerá quando enfim não houver uma ponte?
Meu bem, simplesmente deixar passar é não existir, é não agir. Assistir um filme sem se dar conta da história, ler um livro sem nada ficar... É não permitir-se marcar, somente passar sem se dar conta da própria vida.
Isabela C. Santos
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