Pular para o conteúdo principal

Paloma

    Na volta para a casa Paloma enfrentou um trânsito mais lento que o normal e filas imensas. A razão? A luz. Ou melhor, a falta de energia elétrica. Sem luz na avenida, sem luz no farol. Uma confusão! Paloma chegou em sua casa, sem coragem alguma para tomar banho na água fria (se haviam momentos preciosos em seu dia o banho quente e relaxante era um deles); na verdade, quase não teve coragem para abrir a porta. Sabe, o escuro sempre foi um certo problema, sempre causou um certo medo, a sensação de que algo que ela  não soubesse bem o que era poderia surpreendê-la, surgir para lhe espantar.

    Quase correndo (na verdade, controlando-se para não correr), Paloma deixou a bolsa com estampa de flores no sofá e fechou a casa (é bem verdade que colocar a chave na fechadura utilizando a luz do celular não é a situação mais tranquila do mundo). A rua, com crianças brincando na calçada usando lanternas, lhe pareceu bastante convidativa assim que colocou seus pés na casa escura. Não havia nada melhor para fazer senão conversar com aquela vizinha que a pegou no colo quando bebê e a viu crescer, mesmo que, no geral, fossem poucas as vezes em que a conversa passava de um "oi, tudo bem?" para avançar para um simples "nossa, como está calor!" seguido de um "nossa, verdade!".

    Naquele momento, quando a solidão parecia ser a única opção, uma conversa na calçada, com uma antiga conhecida, à luz de uma lanterna trouxe um estranho conforto. Uma estranha sensação de aconchego que nem de longe os longos textos que tinha para ler poderia lhe trazer. 

Isabela C. Santos

Comentários

Anônimo disse…
Não apenas interessante, mas tbm muito intrigante.

Postagens mais visitadas deste blog

Devoradora de livros

Refletindo e compartilhando minha paixão pela leitura com uma amiga, cheguei a conclusão de que os apaixonados por leitura são grandes curiosos . Sempre nos desviamos um pouco da leitura quando descobrimos um novo fato que pode ser a " grande revelação" da estória. Como disse a ela nessa conversa, uma estória acaba puxando a outra. Esperamos tanto para descobrir o que aconteceu, que muitas vezes ficamos insatisfeitos quando o descobrimos. Insatisfeitos por não ter sido como queríamos ou imaginávamos, insatisfeitos pelo fato daquele livro ter acabado, insatisfeitos porque somos tão curiosos que precisamos ler algo novo para poder ocupar o espaço daquela curiosidade com outra história. O mesmo acotece com a poesia, quando encontramos algo bonito não paramos de procurar mais e mais poemas. Ora, veja só, que curiosidade mais sadia e prazeirosa não é mesmo? Acho que seria muito mais eficaz se no lugar de gatos e suas sete vidas, oferecessemos um livro para aquela velha vizinha

Querido e amado Pantufa

    Meu querido e muito amado cachorro de estimação,    Por saber que você é  um raríssimo cão que sente imenso prazer pela leitura , decidi desabafar meus sentimentos em relação a um certo costume seu atráves desta carta.     O fato é que me entristeço ao vê-lo rosnar em frente ao pote de ração quando percebe que estou perto do mesmo. Me entristeço ao ver que você, meu lindo "au-au", pense que quero roubar teu alimento. Ora, acredite! Eu não quero e nunca vou querer tua ração!     Veja bem, sei que existem pessoas que "gostam" de ração canina mas você deveria saber que não sou uma delas. Você me conhece a tanto tempo, desde que eu tinha cinco anos, já fazem dez anos que somos "irmãos"!     Embora ambos gostemos de algumas mesmas coisas, como a minha cama e minha mãe, nosso gosto culinário é um tanto diferente: gosto de beber o suco da laranja e você adora ser presenteado com o bagaço; adoro o melão e você ama a casca do mesmo; gosto de to

Dia de chuva

    Quando eu era pequena, não entendia o porque das crianças ficarem tão tristes em dia de chuva nos filmes, elas ficavam dentro de casa, olhando a chuva cair através da janela e observando os pingos que molhavam o vidro, enquanto mantinham no rosto aquela expressão triste de quem queria algo e não pode ter. Nunca entendi o porque de tamanha tristeza porque eu sempre gostei de dia de chuva, ver os pingos cair através da janela para mim era quase uma terapia, mas nestes últimos tempos passei a fazer aquela mesma expressão das crianças nos filmes, antes mesmo de a chuva cair, e isso porque agora quando a chuva cai eu estou lá fora. Diante das experiências que venho tendo cheguei a conslusão de que: Agasalhos bonitos não são feitos para dia de chuva . Afinal, ele vai molhar, você vai ter que lavar e no dia seguinte quando você for sair de casa ele vai estar secando. Guarda-chuvas não são eficazes e apresentam uma série de riscos aos rostos alheios.  Quem nunca chegou em casa com as pe