Na volta para a casa Paloma enfrentou um trânsito mais lento que o normal e filas imensas. A razão? A luz. Ou melhor, a falta de energia elétrica. Sem luz na avenida, sem luz no farol. Uma confusão! Paloma chegou em sua casa, sem coragem alguma para tomar banho na água fria (se haviam momentos preciosos em seu dia o banho quente e relaxante era um deles); na verdade, quase não teve coragem para abrir a porta. Sabe, o escuro sempre foi um certo problema, sempre causou um certo medo, a sensação de que algo que ela não soubesse bem o que era poderia surpreendê-la, surgir para lhe espantar.
Quase correndo (na verdade, controlando-se para não correr), Paloma deixou a bolsa com estampa de flores no sofá e fechou a casa (é bem verdade que colocar a chave na fechadura utilizando a luz do celular não é a situação mais tranquila do mundo). A rua, com crianças brincando na calçada usando lanternas, lhe pareceu bastante convidativa assim que colocou seus pés na casa escura. Não havia nada melhor para fazer senão conversar com aquela vizinha que a pegou no colo quando bebê e a viu crescer, mesmo que, no geral, fossem poucas as vezes em que a conversa passava de um "oi, tudo bem?" para avançar para um simples "nossa, como está calor!" seguido de um "nossa, verdade!".
Naquele momento, quando a solidão parecia ser a única opção, uma conversa na calçada, com uma antiga conhecida, à luz de uma lanterna trouxe um estranho conforto. Uma estranha sensação de aconchego que nem de longe os longos textos que tinha para ler poderia lhe trazer.
Isabela C. Santos
Comentários