Talvez depois de um tempo você se pergunte o que, afinal, aconteceu. Talvez você tente lembrar de tudo, exatamente como foi, para não haver erros. Talvez você peça para que as pessoas refresquem sua memória e lhe conte o que você falou. Talvez você procure por rastros do que você pensou, sabe, alguma anotação no bloco de notas ao lado do telefone, nas folhas do seu caderno ou no celular. Talvez você tente lembrar do antes sem que o agora interfira, mas será tarde demais. Sua memória já terá apagado parte dos acontecimentos e você preencherá os espaços vazios com o que você provavelmente pensou, provavelmente sentiu, provavelmente falou e provavelmente fez. Mas o que provavelmente deve acontecer nem sempre acontece. E então, quando finalmente você se deixar perder nas lembranças tentando reconstruir aquele momento, irá fracassar.
O que nos resta hoje não são lembranças puras. A memória nos traiu, não adianta tentar esconder, já não há como lembrar de tudo exatamente como foi, estamos recriando nosso passado aos poucos, nos pontos que nossas lembranças nos permitem porque, se em parte esquecemos e criamos, em parte há detalhes que não se apagam. Pouco a pouco as coisas mudam, nós mudamos. Mudamos o modo como nos vemos, como vemos as coisas e, sem quase nos darmos conta, mudamos o sentido dos acontecimentos da nossa história.
Então mesmo que você tente por horas tentar lembrar o que, afinal, aconteceu, você não irá conseguir. Aquele momento se foi, você não o verá da mesma forma, já o recriou, não é mais a mesma pessoa que o viveu. Nós mudamos, meu bem. Nós nos reinventamos e não há nada de ruim nisso, pelo contrário, existe aí uma beleza: é bonito podermos mudar, pouco a pouco, sabendo que não somos os mesmos, mas de alguma forma ainda somos quem sempre fomos porque tudo aquilo que vivemos ainda parece ser tão... nosso.
Isabela C.Santos
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