Pular para o conteúdo principal

Passado presente

    Talvez depois de um tempo você se pergunte o que, afinal, aconteceu. Talvez você tente lembrar de tudo, exatamente como foi, para não haver erros. Talvez você peça para que as pessoas refresquem sua memória e lhe conte o que você falou. Talvez você procure por rastros do que você pensou, sabe, alguma anotação no bloco de notas ao lado do telefone, nas folhas do seu caderno ou no celular. Talvez você tente lembrar do antes sem que o agora interfira, mas será tarde demais. Sua memória já terá apagado parte dos acontecimentos e você preencherá os espaços vazios com o que você provavelmente pensou, provavelmente sentiu, provavelmente falou e provavelmente fez. Mas o que provavelmente deve acontecer nem sempre acontece. E então, quando finalmente você se deixar perder nas lembranças tentando reconstruir aquele momento, irá fracassar.
 
    O que nos resta hoje não são lembranças puras. A memória nos traiu, não adianta tentar esconder, já não há como lembrar de tudo exatamente como foi, estamos recriando nosso passado aos poucos, nos pontos que nossas lembranças nos permitem porque, se em parte esquecemos e criamos, em parte há detalhes que não se apagam. Pouco a pouco as coisas mudam, nós mudamos. Mudamos o modo como nos vemos, como vemos as coisas e, sem quase nos darmos conta, mudamos o sentido dos acontecimentos da nossa história.
 
    Então mesmo que você tente por horas tentar lembrar o que, afinal, aconteceu, você não irá conseguir. Aquele momento se foi, você não o verá da mesma forma, já o recriou, não é mais a mesma pessoa que o viveu. Nós mudamos, meu bem. Nós nos reinventamos e não há nada de ruim nisso, pelo contrário, existe aí uma beleza: é bonito podermos mudar, pouco a pouco, sabendo que não somos os mesmos, mas de alguma forma ainda somos quem sempre fomos porque tudo aquilo que vivemos ainda parece ser tão... nosso.
 
Isabela C.Santos

Comentários

Gugu Keller disse…
Nada muda mais do que o passado.
GK
Anônimo disse…
Escreva com mais frequência, please... Sei que é difícil de vir ideias na mente, mas é que seus textos são ótimos!!!

Postagens mais visitadas deste blog

Devoradora de livros

Refletindo e compartilhando minha paixão pela leitura com uma amiga, cheguei a conclusão de que os apaixonados por leitura são grandes curiosos . Sempre nos desviamos um pouco da leitura quando descobrimos um novo fato que pode ser a " grande revelação" da estória. Como disse a ela nessa conversa, uma estória acaba puxando a outra. Esperamos tanto para descobrir o que aconteceu, que muitas vezes ficamos insatisfeitos quando o descobrimos. Insatisfeitos por não ter sido como queríamos ou imaginávamos, insatisfeitos pelo fato daquele livro ter acabado, insatisfeitos porque somos tão curiosos que precisamos ler algo novo para poder ocupar o espaço daquela curiosidade com outra história. O mesmo acotece com a poesia, quando encontramos algo bonito não paramos de procurar mais e mais poemas. Ora, veja só, que curiosidade mais sadia e prazeirosa não é mesmo? Acho que seria muito mais eficaz se no lugar de gatos e suas sete vidas, oferecessemos um livro para aquela velha vizinha

Querido e amado Pantufa

    Meu querido e muito amado cachorro de estimação,    Por saber que você é  um raríssimo cão que sente imenso prazer pela leitura , decidi desabafar meus sentimentos em relação a um certo costume seu atráves desta carta.     O fato é que me entristeço ao vê-lo rosnar em frente ao pote de ração quando percebe que estou perto do mesmo. Me entristeço ao ver que você, meu lindo "au-au", pense que quero roubar teu alimento. Ora, acredite! Eu não quero e nunca vou querer tua ração!     Veja bem, sei que existem pessoas que "gostam" de ração canina mas você deveria saber que não sou uma delas. Você me conhece a tanto tempo, desde que eu tinha cinco anos, já fazem dez anos que somos "irmãos"!     Embora ambos gostemos de algumas mesmas coisas, como a minha cama e minha mãe, nosso gosto culinário é um tanto diferente: gosto de beber o suco da laranja e você adora ser presenteado com o bagaço; adoro o melão e você ama a casca do mesmo; gosto de to

Dia de chuva

    Quando eu era pequena, não entendia o porque das crianças ficarem tão tristes em dia de chuva nos filmes, elas ficavam dentro de casa, olhando a chuva cair através da janela e observando os pingos que molhavam o vidro, enquanto mantinham no rosto aquela expressão triste de quem queria algo e não pode ter. Nunca entendi o porque de tamanha tristeza porque eu sempre gostei de dia de chuva, ver os pingos cair através da janela para mim era quase uma terapia, mas nestes últimos tempos passei a fazer aquela mesma expressão das crianças nos filmes, antes mesmo de a chuva cair, e isso porque agora quando a chuva cai eu estou lá fora. Diante das experiências que venho tendo cheguei a conslusão de que: Agasalhos bonitos não são feitos para dia de chuva . Afinal, ele vai molhar, você vai ter que lavar e no dia seguinte quando você for sair de casa ele vai estar secando. Guarda-chuvas não são eficazes e apresentam uma série de riscos aos rostos alheios.  Quem nunca chegou em casa com as pe