Pular para o conteúdo principal

Livros na estante

Sabe uma daquelas conversas longas com vendedores simpáticos pelo telefone? Aqueles vendedores que conseguem esgotar todos os recursos firmes e educados para dispensar os serviços que eles estão oferecendo até que a sua única resposta seja simplesmente "não" e você se segure para não complementar com "porque não"? Foi um desses vendedores que de tanto me perguntar o porquê e estrategicamente me tratar de modo aproximado fez com que eu pensasse (mais uma vez) sobre a vida e o quanto vivo num misto de ansiedade, esperança e há quem diga, calma. 

Já havia dito que não tinha tempo para ler porque as coisas que eu tinha que ler me tomavam muito tempo, também falei que tempo me faltava nos finais de semana e que o serviço oferecido e todos os benefícios não me serviriam de nada porque eu simplesmente não conseguiria usufruir (não mencionei o fato de que R$ 2,90 é o preço do pão de queijo na lanchonete da faculdade e que gosto muito dele). Estava me justificando para um desconhecido, sabe-se lá o porquê. 

- Muito obrigada, mas não vou conseguir usar, então será melhor para outra pessoa.

- Mas por quê? Tempo já não é desculpa. Como faz para ver o namorado?

- Olha, não adianta. Vai ser uma daquelas coisas boas que temos à nossa disposição e não usufruímos, será como os livros que estão embalados na minha estante.

- Hoje de manhã peguei um dos meus livros para ler, mas não continuei porque estava com preguiça...

- Obrigada, mas não vou usar. Bom trabalho para você e boa tarde.

- É assim que perdemos oportunidades... Vamos, faço seu cadastro rapidinho, só me passa seu e-mail para eu te liberar.

- Não, não adianta, não vou usar.

- Bom, tudo bem. Então Isabela, sorte pra você, sucesso!

- Obrigada, bom trabalho!

Mal sabia ele que eu estava pensando nos livros embalados e procurando outros para comprar e mal sabia eu que no fim das contas essas minhas compras são todas o tal misto de ansiedade, esperança e calma. Ansiedade em ter o livro em minhas mãos, esperança por realmente acreditar que os lerei um dia e calma por conseguir esperar sem desistir. Mas isso não se aplica apenas aos livros e, se meus livros fossem planos, poderia dizer que vivo criando novos planos para um dia realizar (só espero que esse " um dia" chegue para todos eles).


Isabela C. Santos

Comentários

Testerrrr disse…
Esse livro "Contos fantásticos do século XIX" nunca mais vai sair da minha biblioteca!!!
Hahahaha
Esse não está embalado porque já veio assim, mas é um dos que ainda não li e vive na minha lista de leituras futuras!

Postagens mais visitadas deste blog

Devoradora de livros

Refletindo e compartilhando minha paixão pela leitura com uma amiga, cheguei a conclusão de que os apaixonados por leitura são grandes curiosos . Sempre nos desviamos um pouco da leitura quando descobrimos um novo fato que pode ser a " grande revelação" da estória. Como disse a ela nessa conversa, uma estória acaba puxando a outra. Esperamos tanto para descobrir o que aconteceu, que muitas vezes ficamos insatisfeitos quando o descobrimos. Insatisfeitos por não ter sido como queríamos ou imaginávamos, insatisfeitos pelo fato daquele livro ter acabado, insatisfeitos porque somos tão curiosos que precisamos ler algo novo para poder ocupar o espaço daquela curiosidade com outra história. O mesmo acotece com a poesia, quando encontramos algo bonito não paramos de procurar mais e mais poemas. Ora, veja só, que curiosidade mais sadia e prazeirosa não é mesmo? Acho que seria muito mais eficaz se no lugar de gatos e suas sete vidas, oferecessemos um livro para aquela velha vizinha ...

Se todos soubessem voar

Se todos soubessem voar, eu ia acabar andando a pé mesmo, já que o medo de altura não me permitiria ficar a mais de 15cm do chão. Iriam haver congestionamentos em vários pontos do céu, já que deitados ocupamos um espaço maior; seriam criadas faixas diferentes para os aviões, pessoas e aves (mas estas sempre invadiriam as outras faixas); depois de muito pesquisar, nós criaríamos faróis que seriam mantidos no ar por máquinas semelhantes a helicópteros. Pensando bem, se todos soubessem voar, não iríamos mais precisar de aviões, nem de pilotos, aeromoças e os outros funcionários que contribuem para que esse enorme pedaço de metal possa voar e nos transportar com segurança e conforto. Seria um enorme problema essa história de todos saberem voar. O desemprego iria aumentar, humanos se chocariam com aves, e ninguém mais iria querer andar quando estivesse fora de casa, exceto aqueles que por medo de altura, jamais iriam querer voar. No fim deste texto, c...

Sabe AQUELE quadradinho?

Estive pensando durante uma prova: o mais difícil é responder as questões ou pintar aqueles "quadradinhos" com a caneta?  Além de não poder olhar para os lados com medo de que imaginem que estamos colando e ficarmos com dor no pescoço de tanto olhar para baixo, ainda temos que preencher aqueles torturantes "quadradinhos" no fim da prova! Isso enquanto "brigamos" com a pessoa da carteira de trás que insiste em invadir o nosso espaço embaixo da cadeira. Colocamos os pés para trás e a pessoa estica os pés para frente. Encontro de pés. Ao sentirmos os pés da outra pessoa, sentamos corretamente, sem esticar ou colocar as pernas embaixo da cadeira. É impressionante como os avisos impressos na folha do gabarito fazem eco em nossas mentes, algo como: Preencha CORRETAMENTE os quadradinhos. NÃO RASURE. NÃO RASURE. NÃO RASURE. NÃO ERRE. NÃO ERRE. NÃO ERRE! A preocupação é tão grande que os riscos de errarmos no preenchimento do quadrado são altas. ...